Dólar fecha em R$ 5,46, maior patamar do atual governo Lula

Moeda americana subiu após novas declarações do presidente e com pressão externa

Mesmo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) ter sido bem recebida pelo mercado, o dólar comercial continuou em alta nesta quinta-feira e encerrou as negociações no maior patamar do atual governo Lula, cotado a R$ 5,46, representando uma alta de 0,38% em relação a ontem. Esse é o maior valor para o câmbio desde 22 julho de 2022, quando o dólar fechou em R$ 5,49. No ano, a moeda já subiu 12,56% frente o real.

O câmbio iniciou o dia em queda. A unanimidade na decisão do Copom ontem contribuiu para acalmar o mau-humor no mercado, que vinha pressionando os ativos nos últimos dias. Ontem, o dólar chegou a bater a máxima de R$ 5,48 durante as negociações.

O mercado estava atento para o posicionamento dos dirigentes indicados pelo atual governo, temendo mais um dissenso, após os dirigentes indicados pelo atual governo votarem a favor de uma redução maior na última reunião, o que foi interpretado como uma postura mais leniente, especialmente meio a críticas de Lula à postura do Banco Central e do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

No comunicado de ontem, no entanto, a percepção entre analistas foi de que a autoridade monetária se mostrou comprometida com o controle da inflação, independentemente de pressões políticas. Na mínima do dia, a moeda era cotada a R$ 5,38.

Por volta das 12h, o dólar começou a reverter a queda vista mais cedo, em meio à piora no cenário externo e a falas do presidente Lula. Ele disse ser "uma pena" que o BC tenha decidido manter a Selic em 10,50% e quem perde com a decisão é o Brasil, e também defendeu o aumento do salário mínimo. Na mesma hora, o Ibovespa começou a reduzir os ganhos, e encerrou esta quinta em alta de 0,15%. Na máxima do dia, o índice subia 1,12%.

— Os ativos vinham perdendo força quando Lula estava falando, então o que ele disse acabou sendo um empurrão final. As falas do presidente mostram que continua essa pressão do governo sobre o Banco Central por juros menores, ao mesmo tempo em que ele parece não estar mostrando muita preocupação com a dinâmica dos gastos — diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

No exterior, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, subia 0,36% por volta das 17h. Nos Estados Unidos, os juros futuros fecharam em alta, e como isso sugere retornos mais atrativos, os ativos em países emergentes, como o Brasil, tendem a ser penalizados.

Diego Costa, gerente de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, destaca que o risco fiscal também segue no radar do mercado, fazendo com que o dólar tenha dificuldade para se sustentar abaixo dos R$ 5,40.

— Embora pressões políticas e incertezas sobre a atuação de um Banco Central técnico tenham impulsionado a cotação nos últimos dias, o que mais impacta negativamente o país é a falta de clareza do governo em estabelecer prioridades orçamentárias — ele afirma.

Para Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management, o mercado ainda está muito avesso a risco, apesar do movimento positivo na abertura:

— Os investidores ainda estão muito avessos ao risco e precisam de sinalizações mais claras do governo não só no lado da política monetária como também fiscal. Quando Lula começou a falar, teve um medo do que ele poderia verbalizar sobre a decisão de ontem ou sobre fiscal, que é um grande risco no radar do mercado hoje — ele avalia.

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